Jejuando pela recompensa.

                                Jejuando pela recompensa.

Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará” (Mateus 6.16-18).

 

INTRODUÇÃO

 “QUANDO VOCÊS JEJUAREM” -  NÃO “SE VOCÊS JEJUAREM”

Umas das primeiras considerações a se fazer sobre o jejum é que o Senhor Jesus encarou o jejum como algo bom e que deveria ser praticado por seus discípulos. O texto não diz: “Se vocês jejuarem,” mas “quando vocês jejuarem.” Isto é o que nós vemos em Mateus 9.15, “quando o noivo será tomado e, então, os discípulos jejuarão”.

Logo, Jesus não ensina sobre se devemos ou não jejuar.  Ele toma por certo que jejuaremos e nos ensina como fazer isso, especialmente, como não fazer isso.

Um dos grandes risco que Jesus exorta sobre o jejum é a hipocrisia.

1º A HIPOCRISIA: UM PERIGO NO JEJUM

Se o jejum for ser construído em nossas vidas como um modo de buscar toda a plenitude de Deus (Efésios3.19), precisamos saber como não fazer isso. Isso incluiria orientações físicas sobre como não colocar nossos corpos em perigo, e o ensino espiritual sobre como não prejudicar nossas almas.

              No lado físico, temos que ter prudência, principalmente se você sofre de alguma doença relacionada a ausência de alimentação, medicamentos ou trabalhe em serviços braçais que exijam uma grande fonte de energias. Nesses casos a avaliação de um médico é fundamental, para evitar riscos maiores.

Mas fundamental é a exortação de Jesus no plano espiritual. 

Jesus nos exorta acerca do perigo espiritual do jejum praticado de uma forma errada. É sobre isso o nosso texto. Jesus nos adverte o que não fazer e, depois, o que fazer no lugar.

Ele nos adverte no versículo 16 a não sermos como os hipócritas: “Quando vocês jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando.”

          Os hipócritas, assim, são aqueles que praticam suas disciplinas espirituais “a fim de que os outros vejam.” Esta é a recompensa buscada por eles.

Afinal, quem não se sentiria profundamente recompensado, ao ser admirado por sua disciplina, zelo ou devoção? Esta é a grande recompensa entre os homens. Poucas coisas dão mais gratificação ao nosso coração caído como ser engrandecido por nossas realizações, especialmente nossas realizações espirituais.

Jesus diz na última parte do versículo 16: “Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa.”

Em outras palavras, se essa é a recompensa que você anseia no jejum, isso é o que você alcançará, mas será tudo o que alcançará. O perigo da hipocrisia é o seu completo sucesso. Ela deseja o louvor dos homens e o alcança. Mas isso é tudo.

Por que isso é hipocrisia?

Jesus os chama de hipócritas. Por quê?

Porque supõem-se que o coração que motiva o jejum seja um coração voltado para Deus. Isto é o que o jejum significa: um coração faminto por Deus.

          Mas a motivação do coração deles em jejuar demonstra um coração voltado para a admiração humana. Então, eles são abertos e transparentes acerca do que estão fazendo, mas esta mesma abertura e transparência é enganosa com respeito ao que experimentam. Se quisessem ser realmente transparentes, deveriam colocar uma indicação em volta de seus pescoços, dizendo: “A recompensa final que busco no jejum é o louvor dos homens.” Assim, não seriam hipócritas, mas seriam pessoas aberta e transparentemente vãs.

          Deste modo, há dois perigos nos quais essas pessoas caem. Um é que estão procurando a recompensa errada no jejum, a saber, a estima de outros. Eles amam o louvor dos homens. E o outro é que escondem isso com um pretenso amor a Deus. Jejum significa amor a Deus — fome por Deus. Com suas ações, estão dizendo ter fome por Deus. Mas, por dentro, eles têm fome da admiração e aprovação de outras pessoas. Esse é o deus que os satisfaz.

UM MODO ALTERNATIVO DE JEJUM

Nos versículos 17 e 18 Jesus dá uma alternativa para este modo de jejum — o modo que ele deseja. Ele diz:

Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.

Ora, há todo o tipo de jejum público na Bíblia, incluindo o Novo Testamento. Por exemplo, Atos 13.1-3 e 14.23. Se alguém descobre que você está jejuando, você não peca com isso. O valor do seu jejum não é destruído se alguém percebe que você não compareceu ao almoço. É possível jejuar com outras pessoas — por exemplo: nosso grupo de apoio jejuando juntos num retiro para buscar ao Senhor — é possível jejuar assim, sem jejuar “a fim de que outros vejam.” Ser visto jejuando e jejuar para ser visto não é a mesma coisa. Ser visto jejuando é um mero acontecimento. Jejuar PARA SER VISTO é um motivo auto exaltador do coração.

O TESTE PROPOSTO POR JESUS DA REALIDADE DE DEUS EM NOSSAS VIDAS

              Assim, Jesus nos dá uma instrução que avaliará os nossos corações. Ele nos diz que quando jejuamos, não devemos fazer nenhum esforço para sermos vistos. Na realidade, devemos fazer esforço em outra direção: não sermos vistos. Arrume seu cabelo, lave o seu rosto, a fim de que, tanto quanto possível, as pessoas nem sequer saibam que você está jejuando.

             Mas, ele vai além disso e diz que o seu objetivo deve consistir em ser visto por Deus, não pelos homens. “Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.” Jejuar para ser visto por Deus em secreto.

            O que Jesus faz aqui é testar a realidade de Deus em nossas vidas. Ó, como é fácil realizar tarefas religiosas quando outros estão olhando — pregar, orar, frequentar a igreja, ler a Bíblia, atos de misericórdia e graça, etc  A razão para isso não é apenas o louvor que podemos receber, mas mais sutilmente o sentimento de que a verdadeira efetividade em nossas ações espirituais está no eixo horizontal entre as pessoas, não no eixo vertical com Deus. Se as crianças me vêem orando nas refeições, isso lhes fará bem. Se o grupo de apoio me vê jejuando, eles poderão ser inspirados a fazer o mesmo. Se meu colega de quarto me vê lendo a Bíblia, poderá ser motivado a lê-la. Em outras palavras, nós achamos que o valor de nossa devoção é o efeito horizontal sobre as pessoas quando elas nos vêem.

                Agora, isso não é completamente mau. Mas o perigo é que tudo da nossa vida começa a ser justificado e entendido simplesmente no nível horizontal, pelos efeitos que isso pode ter naqueles que o presenciam. E assim, Deus pode se tornar uma pessoa secundária nas nossas vidas. Pensamos que Ele é importante porque todas estas realizações são aquelas que Ele deseja de nós. Mas Ele mesmo está saindo do quadro como o foco de tudo isso.

                Jesus, portanto, testa os nossos corações para ver se Deus será nossa suficiência — quando ninguém mais sabe o que estamos fazendo. Quando ninguém está dizendo: “Como você está progredindo no jejum?”. Nenhuma pessoa sequer sabe — nenhuma, mas Deus sabe! Jesus nos chama para uma orientação radical sobre o próprio Deus. Ele nos empurra para ter um relacionamento real, incondicional, autêntico e pessoal com Deus. Se Deus não é real para você, será miserável suportar alguma dificuldade com Deus sendo o único que sabe. Tudo parecerá muito inútil, totalmente ineficiente porque toda a extensão de possibilidades horizontais será anulada, pois ninguém sabe o que você está experimentando. Tudo o que importa é Deus, quem Ele é, o que Ele pensa e o que  fará.

A PROMESSA DE JESUS PARA AQUELES CUJO FOCO É DEUS

                 Isso nos traz para a última parte do versículo 18 e a promessa feita por Jesus sobre o que Deus fará para aqueles que se focam verticalmente nele e não precisam do louvor de outras pessoas para fazer sua devoção valer a pena. Ele diz: “Mas apenas seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.”

A palavra recompensará não é a mesma que reembolsará.  Reembolsará sugere um negócio: fazemos o trabalho do jejum e Deus nos paga com salários. Assim o jejum seria apenas uma relação mercenária.

Mas a palavra recompensará se refere a graça e a misericórdia de Deus, que independe dos nossos méritos no jejum. Deus nos vê jejuando. Ele vê que temos um profundo desejo de nos colocarmos em jejum. Vê que o nosso coração não está buscando os prazeres ordinários da admiração e do aplauso humanos. Vê que agimos, não baseados no poder de impressionar outros com a nossa disciplina, mas baseados na nossa fraqueza, a fim de expressar a Deus nossas necessidades e nosso grande desejo de que Ele aja. Quando vê isso, Ele responde.  

                Isso não é necessariamente implicado na palavra que simplesmente significa “dar de volta” ou “devolver.” Mas recompensará significa a resposta graciosa de Deus a um ato de fé e oração, aqueles que o buscam intensamente de corpo e alma em oração.

MAS IFINAL, QUAL É A “RECOMPENSA” QUE JESUS PROMETE?

Mas qual é a “recompensa” que Jesus promete do Pai aqui? Poderia ser “o louvor dos homens”? Faríamos de Deus um ingênuo, se tentássemos usá-lo como um atalho para alcançar o que realmente queremos no lugar dele, o louvor dos homens. Esta não é a recompensa que Ele dá.

Poderia ser dinheiro? O próprio versículo seguinte (v. 19) nos adverte contra ajuntar tesouros na terra e nos diz para ajuntarmos tesouros nos céus — onde não há o dinheiro terreno, mas apenas fé e amor.

Não, o melhor lugar para descobrirmos a recompensa pelo nosso jejum é olhar aqui para o Sermão da montanha aonde o texto está inserido (Mateus 5-7).

              Por exemplo, a oração que o Senhor Jesus acabou de nos ensinar a orar em Mateus 6.9-13 com três principais desejos: que o nome de Deus seja santificado ou reverenciado, que o seu reino venha, e que sua vontade seja feita na terra como no céu. Esta é a principal recompensa que Deus nos dá pelo nosso jejum.

a)    Jejuamos pelo desejo que o nome de Deus seja conhecido, respeitado e honrado,

b)    Jejuamos pelo desejo que seu governo seja estendido e consumado na história,

c)     Jejuamos pelo desejo que sua vontade alcance domínio em todo o lugar com a mesma devoção e energia que os anjos, incansavelmente, mostram sem cessar no céu, para sempre e sempre.

Com certeza, Ele nos dá muitas coisas por meio do jejum. E não é errado buscar especificamente por ajuda em cada área de nossas vidas, por meio do jejum. Mas, estes três pedidos: santificar o Seu nome, buscar o Seu reino, e fazer a Sua vontade — nos darão o teste para vermos se todas as outras coisas que desejamos são expressões destas.   Queremos nossos filhos e filhas salvos porque isso santificaria o nome de Deus? Desejamos que toda a diocese de Pouso Alegre  se abra por causa do avanço do reinado de Jesus? Queremos líderes honestos no governo porque a vontade santa e revelada de Deus para a sua criação está em jogo?  Queremos a Comunidade Javé Nissi reavivada e despertada com o poder divino, amor e alegria, pois isso glorifica o nome de Jesus, estende seu reino e realiza a Sua vontade?

                    É para isso que Jesus nos chama: um jejum radicalmente orientado em Deus. Então, para o bem da sua alma, em resposta a Jesus, para o avanço do reino do grande Deus, mantendo o propósito de glorificar Seu nome, desfrute o jejum, arrume seu cabelo, lave o rosto e que o Pai, que o vê em secreto, veja você abrir com jejum o seu coração cheio de anseio por Ele. O Pai que vê em secreto está cheio de recompensas para a sua alegria e glória dEle.

 

              #VoltandoparaaCasadoPai esse texto é uma síntese adaptada do Ebook jejuando pela recompensa. Criado e disponibilizado pelo blog Hermeneutica Particular

(www.hermeneuticaparticular.com)  Publicado em 25 de junho de 2011.

Conteúdo baseado no sermão do Pr. Dr. John Piper do Ministério Desiring God.org e da Igreja.  A paz e pentecostes a todos!