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Pentecostes uma palavra de ordem para a Renovação carismática!
03/08/2016 15:03
Pentecostes uma palavra de ordem para a Renovação carismática!
Quando chegou o dia de pentecostes, os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar... e todos ficaram cheios do Espírito Santo (Atos 2,1-4)
Essas foram as palavras de Lucas para relatar o maior fato da história, o mistério de pentecostes!
Considerações iniciais:
Pentecostes é palavra de ordem para a Renovação Carismática Católica, é a sua experiência fundante, constituinte de sua identidade, de sua razão de ser, em outras palavras, é a via que Deus concedeu a (RCC) Renovação Carismática Católica, para que ela esteja a serviço da Igreja e com a Igreja. É o caminho da realização de seus membros, enquanto vocacionados por Deus na vivencia da fé.
É perceptível o bem que a renovação trouxe a Igreja, desde o engajamento de muitos líderes leigos numa pastoral ativa centrada no Senhorio de Jesus e na busca de conversão em uma vida intensa de oração regada pela leitura da Palavra de Deus, a vivência sacramental e o amor a Igreja. O mesmo se pode dizer em relação aos padres, os Bispos, religiosos (as) que sentiram uma renovação interior e vitalidade no exercício ministerial. Muitos são os exemplos que podemos explicitar, tais como: Pe. Robert DeGrandis , Monsenhor Jonas Abib , Monsenhor Mauro Tommasini fundador da Comunidade Javé Nissi e tantos outros e outras que poderiam aqui ser citados. Para ilustrar nossa afirmativa, apresentamos aqui as palavras testemunhais do pregador da Casa Pontifícia Pe. RANIERO CANTALAMESSA:
Certo dia fui quase forçado a um encontro carismático. Lá fui tomado de uma intensa e nova alegria, que não sabia explicar. Sentia-me sacudido. E, confessando as pessoas, percebia nelas um arrependimento novo, profundo. Eu podia ver e até tocar a graça de Deus. Mas continuava como um observador (...). Um detalhe importante é que enquanto se reza para que alguém receba a efusão do Espírito, se diz: “Escolhe Jesus como Senhor da tua vida” e, enquanto me diziam estas palavras, levantei os olhos e vi o crucifixo que estava sobre o altar da capela. Era como se Ele me esperasse para me dizer algo muito importante: “Atenção! Raniero, cuidado! Este é o Jesus que tu escolhes como teu Senhor, o Crucificado. Não é um Jesus fácil, sentimental”. Nesse momento, entendi que a RCC não é um fenômeno superficial, mas algo que nos leva diretamente ao coração do Evangelho, à cruz de Cristo. Três meses depois voltei à Itália e os meus irmãos diziam: “Que milagre! Mandamos à América Saulo e nos mandaram de volta Paulo”. Algumas semanas depois, rezando na cela de meu convento, tive a moção interior de visualizar Jesus que retornava do batismo no Jordão e começava a pregar o Reino de Deus, e ao passar por mim Ele dizia: “Se queres me ajudar a proclamar o Reino de Deus, deixa tudo e vem!” (...). Foi o Espírito Santo e a experiência carismática que fizeram deste velho professor universitário um pregador do Evangelho .
Segundo CORDES (1999, p.23) “Batismo no Espírito Santo é experiência concreta da graça de Pentecostes na qual a ação do Espírito Santo tornar-se realidade experimentada na vida do indivíduo e da comunidade de fé”. Como afirmou acima o Pe. Raniero, a experiência da renovação não está pautada em subjetivismo, mas à profunda compreensão do Evangelho e a entrega desmedida, almejando a cruz de Cristo como via de redenção e sentido para a vida, mesmo em suas diversidades!
Dentre os diversos sinais que podemos elencar sobre a graça de Pentecostes na renovação, destacamos quatro pontos, dos quais consideramos abranger o essencial desta experiência:
a) Mudança de mentalidade:
É estarrecedor perceber como as pessoas ao serem batizadas no Espírito Santo têm realmente uma “μετανοεῖν” (metanoein), a palavra se dá na junção de dois termos “μετά” (metá), ‘além’, depois; “νοῦς” (nous), ‘pensamento, intelecto’. A graça infundida no coração causa uma experiência análoga a de Paulo (cf Atos 9, 17-18), que ao ser batizado por Ananias, vê caindo como que escamas de seus olhos, tem uma nova compreensão de mundo. Não somente um voltar-se para Deus, mas também uma nova visão de toda realidade criada, bem como a compreensão do combate espiritual que se trava entre os filhos de Deus e o maligno.
Comumente chamamos esta experiência de “conversão”. Não que o batismo no Espírito leve-nos há uma conversão definitiva, mas ele realiza como o próprio termo explicita uma mudança, um retorno, voltando-nos para Deus, para seu amor. Amor este que afeta diretamente nosso relacionamento com o próprio Deus, conosco e com os outros, referimo-nos a outros para significar que o amor de Deus não só projeta-nos para o próximo, enquanto irmãos de comunidades e amigos, mas dirigi-nos a todos, sem distinção. Nesta experiência compreendemos o diálogo de Jesus com Nicodemos que é convidado a nascer de novo (cf Jo 3,5-7).
b) Dinamismo espiritual:
Outro ponto consensual em todos que sofrem esta experiência é o renovado desejo pela oração. Trata-se de uma descoberta, um avivamento, a oração toma um gosto diferenciado, como nunca visto antes, a presença de Deus é indubitável trazendo fortes momentos de louvor e adoração, tal como enfatizou Jesus à Samaritana (cf Jo 4,21-23). Seja no trabalho, no lazer, com os amigos, em meios às dificuldades, o coração é tomado de uma gratidão incontida onde tudo é motivo para rezar (cf I Tes 5,16-22).
Esse dinamismo é perceptível não somente na oração, mas também na missão! A consciência da presença do Espírito em nós faz fluir uma erupção de frutos e carismas. O cristão percebe que seu temperamento é transformado, é comedido em algumas ações, ousado em outras, percebe-se de fato uma força nova (cf Atos 1,8). O agir do Espírito nos livra da escravidão do pecado, levando-nos a superar nossas fraquezas, saímos da condição de coração de pedra e entramos na esfera do coração de carne (cf Ez 11,19). No agir ministerial destacasse a vivacidade da Palavra e dos Sinais que a acompanham (cf Mc 16,15-18). Os carismas já não são somente para monges e pessoas de santidade reconhecida, mas tornasse uma realidade na vida de fé, desde a oração comum assistida por profecias e palavras de sabedoria, como a intercessão pela cura, com sinais imediatos que vão desde a simples cura até milagres e libertações.
c) Zelo pela Sagrada Escritura:
Já se comentou que a renovação colocou a Bíblia na mão do povo! Não nos interessa aqui discutir se foi a Renovação ou a CEBs que colocaram a Bíblia nas mãos povo. O fato é que a partir do batismo no Espírito Santo, os carismáticos começam a ler a Bíblia e tomá-la como Palavra de Deus, como de fato ela é (cf Heb 4,12-13). Pode até parecer estranha tal afirmativa, mas principalmente com o advento da exegese moderna, muitos perderam a fé em relação às Sagradas Escrituras, lendo-as simplesmente com a ênfase crítica e histórica. A Palavra era viva, referimo-nos não tanto ao conteúdo como verdades de fé, mas ao fato de que eles liam e experimentavam sinais tais quais se mencionam na Bíblia (Mt 11,2-6). Da mesma maneira não faltaram os que disferiam severas críticas contra a renovação chamando-os de fundamentalistas e ignorantes, não que uma boa fundamentação bíblica não seja necessária, mas não se fazerem doutores sem alunos, primeiro coloquemos a Bíblia nas mãos do povo, e uma vez credenciada, dá se a formação necessária. Já diz um ditado popular: “as abóboras se ajeitam no andar da carroça”.
Tal como na lectio divina a Bíblia foi tomada como um livro de oração, onde se ouve a Palavra de Deus e neste estimulo abre-se a um diálogo, inúmeros são os testemunhos de pessoas que iluminados pelo Espírito Santo na leitura da Sagrada Escritura encontram a orientação necessária para dirigir suas vidas e comunidades . O amor a Bíblia e o anseio em conhecê-la foram os principais testemunhos que ecoam da boca dos carismáticos.
O zelo pela Escritura é fator fundante da RCC, pois permeou o coração dos fieis que se voltaram tenazmente a Bíblia, estudando, escutando pregações, inserindo-se em cursos de teologia, cujos frutos se tornam evidentes, não tanto por grandes reflexões teológicas, mas pela fidelidade magisterial na coerência de fé e doutrina.
d) Amor a Igreja:
A experiência do Espírito tem por consequência a vida comunitária, a experiência de Igreja. Ao lermos os Atos dos Apóstolos Lucas revela-nos três retratos de Igreja, exortando as primeiras comunidades de como deveriam proceder em suas condutas, mostrando os passos essenciais para que se possa amar a Igreja. Segundo o evangelista esse amor se manifesta na formação, na fraternidade, na partilha do pão e na oração (Atos 2,42-47). Por vezes, focasse o amor a Igreja como amor a hierarquia, esta interpretação é falha, pois a hierarquia e via de comunhão e não fim! A Igreja é um todo, enquanto laicato e hierarquia são partes, sendo ela corpo de Cristo cabeça, somos nós os membros que compõe e articulam este corpo. Quanto mais nos abrimos aos irmãos e as vias de salvação que a Igreja nos propõe, mais a amamos. Dizemos isto considerando as tensões necessárias e saudáveis que por vezes se dão entre laicato e hierarquia, tensões que não são vias de regra, mas exceções das quais não passam despercebidas no cotidiano da vida de fé.
. Para o Cardeal CORDES (1999, p. 39) o batismo no Espírito Santo insere os fieis no cerne da Igreja, coloca-os na esfera da comunhão dos santos, tendo-os como amigos, irmãos e irmãs sempre nos aproximando de Cristo, levando sempre mais há um serviço concreto em empreendimentos sociais, caritativos e catequéticos. O Espírito estimula a criatividade e dá nova força e disponibilidade para satisfazê-las.
Apesar de seu caráter profundamente pessoal, esta nova relação com Jesus não é absolutamente coisa particular. Ao contrário, orienta para a comunidade, fomenta novo apreço pela presença de Maria em Pentecostes e por sua relação com a Igreja. Finalmente, a renovação se caracteriza por um grande amor a Igreja, estimula e favorece uma leal adesão e obediência a sua estrutura interna, a sua vida sacramental e a seu magistério (ORIENTAÇÕES TEOLÓGICAS e PASTORAIS, 1994, p 8).
O grande signo desse amor a Igreja se destaca na doação de tempo, disposição, dinheiro e estudos todos voltados para o bem da Igreja, para a evangelização, para a comunhão. Na primeira conferencia internacional do Papa Paulo VI com os líderes da Renovação, faz questão enfatizar pontos relevantes dessa experiência para a vida eclesial:
• Gosto pela oração profunda pessoal e comunitária;
• Uma volta a contemplação e uma ênfase colocada na palavra de Deus;
• O desejo de entregar-se totalmente a Cristo;
• Uma grande disponibilidade as inspirações do Espírito Santo;
• Uma leitura mais assídua da Escritura;
• Uma ampla abnegação fraterna;
• Uma vontade de prestar uma colaboração aos serviços da Igreja (OS PAPAS FALAM SOBRE A RENOVAÇÃO, 1982, p. 7).
Para vivermos a essencial dessa experiência tão profunda e radical, meditemos e desejemos ardentemente, Fazendo nossa e para nossos dias a oração do Santo João XXIII :
Repita-se deste modo, na família cristã, o espetáculo dos apóstolos em Jerusalém, depois da ascensão de Jesus aos céus, quando a Igreja nascente se viu toda unida em comunhão de pensamento e de preces com Pedro e ao redor de Pedro, pastor dos cordeiros e das ovelhas. E digne-se o divino Espírito ouvir da maneira mais consoladora a oração que todos os dias sobe de todos os recantos da terra: "Renova em nossa época os prodígios, como em novo Pentecostes; e concede que a Igreja santa, reunida em unânime e instante oração junto a Maria, Mãe de Jesus, e guiada por Pedro, difunda o reino do divino Salvador, que é reino da verdade, de justiça, de amor e de paz”.
A paz e pentecostes a todos, renovemos o nosso chamado através do carisma que deu nos Deus, hoje é dia de pentecostes!